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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

UMA PAGINA DE NOSSO DIARIO

(Texto de Nilton Marchesini)
Foto de 2011, no niver da Isa, às margens do belìssimo lago de Lugano (Suiça)
Acabou mais um ano. E um outro ano começou. E como sempre, esse dias de fim de ano sao uma grande oportunidade para fazermos uma reflexao sobre o que fizemos ou deixamos de fazer, e um projeto para o que queremos e nao queremos para o ano novo. Alguns prometem fazer regime, outros prometem ser um conjuge melhor, e assim vai. Alguns se dedicam realmente ao que prometeram, mas a maioria tem apenas um sentimento de momento, e depois volta tudo novamente como era antes.
Nesses dias em que nao trabalhei, por motivo de recesso empresarial, aproveitei para também fazer um balanço desses ùltimos anos, desde que chegamos à Italia. Minha e esposa e eu chagamos aqui em setembro de 2003. Nossos filhos vieram somente nove meses depois. Foram tempos duros aqueles.
Sozinhos, sem amigos e sem parentes, sem nenhum conhecido, nos vimos imergidos em uma situaçao que nao havìamos previsto. O dinheiro ja havia acabado, a ponto de um dia, termos decidido retornar, mas nao pudemos remarcar a passagem de retorno, porque nao haviamos cem dòlares para cada um, para tal operaçao na companhia aérea.
Certo dia, nossa filha menor, que havia apenas quatro anos, nos disse ao telefone: "Voces nao me amam mais? Porque falam de vir me buscar mas nunca vem!" Aquele dia foi terrìvel para nòs. Foi como se o mundo tivesse desabado em nossa cabeça. Como poderiamos fazer uma menina de quatro anos entender as vississitudes da vida adulta, cheias de erros e situaçoes que fogem do controle?
Nòs, que no Brasil, havìamos uma casa (e a temos ainda), um carro, profissoes, emprego, reputaçao, etc, e trocamos tudo por um ideal que nao estava sendo alcançado, e que, pra dizer a verdade, ja nao estava mais valendo a pena, e o pior, agora jà nao dava mais para voltar atràs. Estàvamos em meio a uma estrada onde era quase impossìvel voltar, mas também nao era fàcil seguir em frente.
Nos seis primeiros meses aqui na Italia, tivemos que mudar de endereço seis vezes. E como o sistema europeu é bem diferente do brasileiro, tivemos que nos adaptar a ele, pois aqui, somos nòs os estranjeiros. Habitando sempre em casas com outras pessoas, as vezes com uma sò familia, as vezes com pessoas de diversas familias, acumuladas em dois ou tres comodos, dividindo o pouco espaço da casa, o mesmo fogao e o mesmo banheiro, e até o mesmo quarto, a mesma sala. Pessoas de muitas nacionalidades, cada uma usando o fogao a seu tempo, com comidas de sua tradiçao, tendo que terminar velozmente, e lavar tudo para os pròximos da fila. Nao tìnhamos nenhuma mobìlia e todo o nosso guarda-roupa estava dentro de duas malas para cada um. Para quem nunca teve nada poderia ser muito, mas para mim, que somente de livros havia deixado quase 1200 no Brasil, e a Isa que havia deixado um fogao novinho, novinho, de seis bocas e um guarda-roupas de seis portas, em cerejeira pura, entre outras coisas, era algo que nos fazia muita falta.
Quando o emprego vinha, nem era emprego no sentido da palavra, eram apenas "bicos" de um ou dois dias, ou de uma semana, o que nao era nem o suficiente para pagarmos o aluguel e as despesas bàsicas.
O fim no ano se aproximava, e com ele, o frio do inverno rigoroso europeu. Vimos a neve pela primeria vez, e nos arrancou um sorriso. Mas nao era o suficiente. Foi um natal triste. Um dos mais tristes de toda a nossa vida. Saude nao faltava, mas o coraçao estava em pedaços. Sò não foi mais triste porque o irmao da Isa, que estava indo para a Espanha, passou por aqui e nos fez companhia por uns 25 dias, incluindo o natal e o ano novo de 2004.
Eu me lamentava ainda mais, por ter envolvido a Isa nesta situaçao. Expor uma mulher a uma situaçao destas é algo de que um homem deveria se envergonhar, sempre. Mas ela foi uma heroina. Mesmo sofrendo a ausencia dos filhos, o aconchego da casa, jamais se lamentou ou me condenou por minhas decisoes, pois embora ambos tenhamos acordado com todas as decisoes, quando ainda estàvamos no Brasil, a verdade é que todas as idéias e todos os sonhos, partiam de mim. Ela foi ainda mais batalhadora, quando eu voltei ao Brasil buscar as crianças e tive que ficar là por tres meses, deixando-a sozinha aqui, na casa de uma família de irmaos em Cristo que haviamos conhecido aqui.
Desejei vir para a Italia pois sou descendente de italianos e de acordo com as leis italianas, sou também cidadao italiano, devendo apenas comprovar o grau de parentesco com o antepassado, e que o mesmo nao tenha se naturalizado no Brasil. Mas quando chegamos aqui, descobrimos que a simplicidade do processo esbarrava na burocracia e o que pensàvamos ser uma coisa de dias, se arrastou por quase dois anos.
Evitàvamos ao màximo de falar com os parentes no Brasil, pois não querìamos que soubessem os detalhes do que estàvamos passando, e nem querìamos ser estimulados por eles a voltarmos. Voltar seria não somente uma derrota nos objetivos traçados, mas também uma vergonha pessoal, por não termos tido forças para resistir. A nòs, bastava saber que estavam nos sustentando com suas oraçoes.
Naqueles primeiros meses, estando somente nòs dois aqui, com muito tempo disponìvel, faziamos uma coisa que era quase que um sacramento. Todo dia, durante a tarde, a Isa pegava seu violao e iamos para um certo parque (jardim) da cidade, onde tem uma belissima area verde, e ali, ela começava a tocar violao e cantàvamos nossos canticos prediletos. Em cada canto, uma série de làgrimas. Cantàvamos somente hinos sacros, muitos hinos de nossos hinàrios e também hinos de cantores evangélicos, que serviam como bàlsamo ao nosso coraçao. Como aqueles momentos nos ajudavam. Ao final dos canticos, oràvamos, lìamos a Bìblia e voltàvamos para a vida monòtona que nos esperava là fora do parque. Ali era o nosso refrigério. Nosso momento com Deus, nosso momento com o passado. E com o futuro. Era o momento mais especial do dia, e isto durou vàrios meses.
Dentre todas essas cançoes, uma ficou pra sempre gravada em meu coraçao. A Isa jà cantava essa cançao no Brasil, pois ja gostava do estilo desse cantor. Eu ainda nao, pois eu havia um estilo mais tradicional e clàssico para as mùsicas evangélicas. Mas aqui, depois daquela experiencia, aprendi a amar essa mùsica, pois quando a cantàvamos, era como se fosse uma nossa oraçao, uma nossa entrega do ser nas maos de Deus. Certamente, Deus aceitou nosso louvor, e nossa oraçao, pois com a graça dele, pouco a pouco, as coisas foram sendo sistemadas. Nossos filhos vieram, nòs arrumamos emprego, obtive a confirmaçao de minha cidadania e, de conseguinte, de toda a familia, alugamos uma casa somente para nòs, compramos um carro, que mesmo pagando em prestaçoes, foi um carro zero kilometro, ja fomos de férias duas vezes ao Brasil, jà viajamos em outros onze paises da Europa, e ja tivemos fantàsticas e inenarràveis experiencias por aqui, que jamais terìamos, estando no Brasil. Além disso, nossa familia està mais unida, nosso casamento mais fortalecido, nossa fé mais sòlida. Em tudo Deus seja louvado. Mas nem tudo deu certo como esperàvamos. Nosso propòsito missionàrio também se esbarrou na burocracia humana, mesmo denominacional, e nunca conseguimos nos identificar com uma Igreja Batista por aqui, pois as poucas que tem, não são Batistas como as que conhecemos no Brasil, algumas na doutrina, outras na liturgia e outras na administraçao, embora temos conhecido pessoas marvilhosas e que são realmente crentes no Senhor Jesus.
Talvez tenha chegado a hora de deixar a Italia. Talvez nao. Ainda nao temos a certeza sobre onde ou quando andar. Mas uma coisa é certa, onque quer que estivermos, e o que quer que estivermos fazendo, todas as vezes que eu ouvir aquela musica, que mais que um hino, é uma oraçao , vou me membrar daqueles dias tristes de vale da sombra da morte, e de como Deus nos sustentou em tudo e por tudo, e nos trouxe para pastos verdejantes e nos agraciou com sua misericordia e amor.
A mùsica é cantada por Kleber Lucas, e se chama: Aos Pès da Cruz, como abaixo transcrita, e inclusive, com um link, para quem quiser ouvi-la.

Aos Pés Da Cruz
(Kleber Lucas)

Meu Jesus maravilhoso és
Minha inspiração a prosseguir
E mesmo quando tudo não vai bem
Eu continuo olhando para Ti.
Pois sei que Tu tens o melhor pra mim
Há um segredo no Teu coração
Oh! Dá-me forças pra continuar
Guardando a promessa em oração.

Firme, oh! Deus está o meu coração
Firme nas promessas do Senhor
Eu continuo olhando para Ti
E assim eu sei que posso prosseguir.
E mesmo quando eu chorar
As minhas lágrimas serão
Para regar a minha fé
E consolar meu coração
Pois o que chora aos pés da cruz
Clamando em nome de Jesus
Alcançará de Ti Senhor
Misericórdia, Graça e luz.

Teu grande amor não cessa
Eterno não tem fim
Quão grande És Tu Senhor,
Quão grande És pra mim
Tua graça é o meu refúgio
Descanso no Teu poder
Maravilhoso és, Maravilhoso és
Pra mim.

Firme, oh! Deus está o meu coração
Firme nas promessas do Senhor
Eu continuo olhando para Ti
E assim eu sei que posso prosseguir.
E mesmo quando eu chorar
As minhas lágrimas serão
Para regar a minha fé
E consolar meu coração
Pois o que chora aos pés da cruz
Clamando em nome de Jesus
Alcançará de Ti Senhor
Misericórdia, Graça e luz.
Misericórdia, Graça e luz.

Http://letras.terra.com.br/kleber-lucas/76843/


          Por hoje, me limito a esta pàgina. Tenho muitas outras para contar, inclusive, detalhes desses fatos que aqui foram escritos de maneira muito genérica, mas isto serà assunto para outras pàginas de nosso diàrio.

Nilton Marchesini

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